segunda-feira, 2 de julho de 2012

Sorte Grande


"Julie, Julie, olha lá."
Virou, mas seus olhos continuavam grudados na telinha do celular. Sempre distraída.
"Julie, cara. Ela vai passar de novo. Olha, caralho!"
"Tudo bem, tudo bem."
E dessa vez olhou. Ah sim, aquela garota da outra vez. Qual era mesmo o nome dela? Amanda...Samantha? Hm. Não lembrava ao certo, mas lembrava dos lábios cobertos de batom vermelho e daquele cabelo alvoraçado e colorido.
"Não é uma gata?"
"Se você curte esse tipo de coisa..."
"Porra, você tem que me ajudar com essa mina. Faça-me esse favor, você sabe como eu sou...da última vez..."
"Você é um cagão, Mark. Isso sim. É só uma guria, vai lá. Paga uma cerva pra ela, joga esse teu charme."
"Se eu levar um pé na bunda, te culparei pro resto da vida."
"Claro, e eu morrerei com meu remorso."
Como ele podia ser tão medroso? Bem, até sabia, só não gostava de admitir assim, em voz alta. Então só o empurrou e o mandou em sua missão. Seria divertido.
E, dizer que ao fim da noite, ele conseguiu carregá-la para o apartamento.
Ela chegou duas horas depois, sozinha.
"E ai, sua gata já foi embora?"
"Shh, ela tá dormindo. Acho que achei meu anjinho, Juls."
"Ok, talvez essa dure mais de um mês."
"Estou falando sério. Ela é..." E como se estivesse contando algo de extrema importância, porém secreto, sussurrou. "Mágica."
"Dejà vú."
"Ah, cale essa boca.... E você? Deu sorte não?"
"Claro que dei. Está vendo alguma guria comigo?"
"Você tem conceitos estranhos. Teria dado sorte se tivesse alguém."
"Você que pensa, meu caro amigo."
"Olha, eu encaro uma rodada da Verdinha e ai volto para meu ninho de amor."
"Nha, estou morrendo. Vou dar uma tragada e ir para o meu ninho de felicidade."
"Trouxa."
"Te considero pra caralho também, M. E por favor, silêncio...Perdi meus abafadores."
E foi assim que acabou a noite, com uma carteira rasgada no chão, um cinzeiro lotado e uma brisa fresca. Era mais uma noite de sorte, sem resentimentos.
Debateu por horas com seus alter egos. Ciência e música. Políticos e gastronomia.
Um ruído lembrando Ticket to Ride interrompeu sua linha de pensamento. Vinha da rua, mas quando olhou pela janela, a rua estava tão vazia quanto o copo de café sobre a escrivaninha.
Talvez fosse hora de dizer adeus pra'quele dia.

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