Confessions | The Series

#11 You've got brown eyes like no one else.

Andarilho-ei

Hoje, súbita vontade de não me importar com essas coisas mundanas.
Hoje não fiz aquele trabalho maçante que vinha a me cutucar volta e meia, meia volta, volver!
Não peguei aquela lata de sardinha móvel.
Cheira terrivelmente mau.
Hoje apenas esperei tocar o sino da meia dúzia. Joguei as alças da mochila em volta dos ombros - já cansados do peso de responsabilidade mínima - e joguei pés na estrada.
Fui pro Norte, longa caminhada. Voltei ao sul.
Leste, Oeste.
Trás.
Frente.
Subi e tropecei. Umas três benditas vezes. E o passarinho riu da minha cara de aventureira presa a isso tudo.
Eu sorri de volta. Sacana, sabia que não iria durar muito.
Passei por vários carros e por seus prisioneiros. Lembrei que logo seria uma deles.
Suspirei e olhei para os tênis gastos, sujos de barro.
Pernas finas.
A noite beijava o céu graciosamente.
Dia quente de morrer, que merda.
Não havia passado nem duas horas ainda.
Oh, a consciência tocou o cantinho da alma. Papai pagou pelo dia de hoje, menina. Trabalhou e suou e gastou grande parte contigo. Apenas joga fora? Que vergonha!
Apenas jogo fora. Mas no lixo apropriado, é para reciclar depois.
Devem achar que durmo ao relento na rua. Dó.
Essa roupa usada e suja não engana ninguém. Olhe esse cabelo!
Cabelinho.
O som da risada da morena soou aos ouvidos. Lembrança quente no peito.
Não há montanhas nesse lugar. Queria me sujar, propriamente.
Lama, insetos.
Mas só há concreto e businas.
Por toda parte.
Logo tropecei novamente.
Uma flor me sorriu da parede. Assim, de uma rachadura, ela nascia tímida mas vívida. Cheia de vontade.
E observei mudar o mundo.
Por apenas alguns segundos.